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Conto: Apesar da distância


Pois é, Conrado você foi arrancado da minha vida.
Era verão. Eu me lembro perfeitamente. O sol estava escaldante e combinava muito com o seu sorriso, admito.
Você vestia bermuda jeans, camiseta e sandálias Havaianas. Eu usava um vestido amarelinho e sandálias de mesma cor.
Meu humor naquela tarde poderia ser comparado a uma catástrofe nuclear e você nem ligava pois estava radiante, e foi quando me chamou – assim como quem não quer nada – para tomarmos um sorvete de flocos. Aposto que levou algum tempo tentando descobrir que aquele era o meu sabor favorito.
Fomos à bendita sorveteria e você estava muito feliz e eu não entendia o que havia acontecido. Então brigamos, porque eu tenho dessas coisas, nada em excesso me deixa bem, ao menos era assim na época. Você disse que tinha feito uma descoberta extraordinária e eu fiquei louca de curiosidade, mas você se negou a contar.
Obviamente, fiquei indignada, prometi a mim mesma que não te priorizaria tanto. Naquele meu momento de fúria, você se aproximou de meu ouvido e sussurrou:
"Hey, veio uma jujuba vermelha no seu sorvete"
Eu levantei o olhar e encarei seus olhos, contendo um sorriso. Poderia ser mais bobo?
Você logo desdobrou um papelzinho branco com as bordas douradas, cujas letras escritas eram embaralhadas demais, e tive que me esforçar para entender. E ele dizia:
Valentina, eu me apaixonei por você, quer ser minha namorada?
Eu levei as mãos à boca, sorrindo mais do que meus lábios suportavam. Existe algo mais belo do que receber um anjo de presente do destino? Até hoje, anos depois, nada superou o que senti naquele momento.
Eu dizia freneticamente que sim, eu seria a sua namorada. E o que mais você quisesse que eu fosse.
Voltamos para casa tomando sorvete de morango, seu predileto, comemorando que estávamos juntos.
Lembro-me que eramos tímidos e discretos naquele tempo, mas logo mudaríamos muito. Mudaríamos tanto que não nos reconheceríamos naqueles rostos inocentes.
Aquela foi a volta mais demorada de todos os tempos, considerando que não eram mais que dois quarteirões de distância. Brincamos tanto que você derramou sorvete em meu vestido... E como eu ri disso!
Penso em você quando olho para todos os meus pertences, você fazia questão de comentar sobre tudo, e por isso não há como não me lembrar do seu sorriso.
Aquela mancha cor de rosa que hoje jaz em meu vestido é apenas uma besteira vista pelos olhos alheios, porém para mim é uma doce recordação do tempo que ainda eramos felizes, jovens e apaixonados.
E digo isso porque estou com saudades. É claro que entendo a distância, mas acordo no meio de pesadelos esperando que volte vivo dessa guerra. Tenho saudades dos seus olhos calmos, e dos seus sorrisos sarcásticos. Sinto falta de poder recorrer a você quando ocorrem os problemas da minha vida, sabe como sou dependente! Quero saber como foi o seu dia e com o que sonhou a noite, quero ouvir os seus conselhos sempre ditos na hora certa, com o jeito certo.
E principalmente, tenho saudade dos dias que andávamos na praia cantando alguma música nacional, aos dezessete anos, ou apenas idealizando todo um futuro juntos.
E por todos esses motivos ainda espero, ansiosamente, seu retorno.
Com amor..
sua doce, Valentina




Comentários

  1. Nossa que conto incrível.. foi você quem escreveu?
    http://littlelifeofander.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Maravilhoso, voce escreve muito bem. Ja pensou em escrever livros?! haha, leva muito jeito, estou seguindo o blog. Bjs

    http://garotas--xxi.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. e não é que digo isso a ela 😂

      Excluir
    2. Ahh meninas, obrigada!!
      Estou fazendo uma saga, ainda no segundo livro, em breve falarei um pouco sobre...
      E já estou seguindo seu blog, fofa <3

      Excluir

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